1.
“cupom de desconto”
Foi essa a resposta que eu recebi de uma pessoa muito querida quando perguntei o que vinha à sua mente quando pensava em ‘bashō’.
Foneticamente ela tem razão. O cérebro de quem ouve o nome pela primeira vez, traduz o som em ‘baixou!’ dito de forma popular. Assim como quem lê sem conhecer a fonética, acaba dizendo ‘bashó’, já que esse acento reto não é muito conhecido por aqui. Por que diabos escolher um nome cheio de pegadinhas assim então?
Hoje nós vamos te contar a história do nome, que na verdade define o conceito que mais acreditamos para empreender e ser feliz ao mesmo tempo. Vem comigo!
2.
‘business as art’
Quando no processo de desenvolvimento da empresa surgiu esse conceito, eu fui fisgado. Empreendedores são artistas. Fazemos ‘business as art'. É exatamente isso!
Precisava traduzir numa marca, então! E aí vem a saga tortuosa do naming.
O naming, por sua vez, é o nome bonito dado ao processo de batizar a empresa. Eu ainda não fui pai para afirmar, mas tenho 99% de certeza que é muito mais difícil batizar empresa do que filho.
Não tem problema o nome do seu filho ser igual ao de milhares de pessoas. É até bom, na verdade. Nenhum João ou Maria se ofende por encontrar alguém com o mesmo nome. Mas ninguém é idiota de batizar uma empresa de Apple ou Nike. É uma morte anunciada desde o dia do nascimento.
O nome da empresa precisa ser original, ter significado e ser fácil de falar ao mesmo tempo. Missão ingrata.
3.
BART
Eliza um dia soltou na reunião:
— Já sei! BART! Business as ART.
Mais um problema criado. BART é bom, mas não sei. Tem o Simpsons. Tem o BARD, do Google. Não quero competir com o Google. Não quero ser visto como um menino travesso, como o Simpsons. Difícil.
Chegando aqui em São Francisco, descobri que o sistema público de transporte da região leva esse nome também: Bay Area Rapid Transit. Mais um pra conta.
4.
por que arte?
“Os artistas são a antena da raça”.
Essa frase foi proferida por Ezra Pound, em 1934. É a definição mais simples de artista que eu já vi. Artista é aquele que pega as coisas no ar, capaz de transmitir às massas sutilezas sociais que todos sentem, mas nem sempre veem. O mesmo deve ser feito por empreendedores.
Da mesma forma, artistas sempre estão remando contra o sistema.
Você entende ‘sistema’, confio na sua maturidade.
Fomos então buscar referências múltiplas na história, passando por dadaísmo, nonsense, vanguardismo e por aí vai. Muitas ideias surgiram, mas faltava algo.
5.
“do contra”
Diferente. Avesso. Antagônico. Eram palavras que passavam por nossa cabeça. O empreendedor não quer seguir o sistema. Quer ser ele mesmo. Assim como o artista.
De ponta-cabeça.
De pernas pro ar.
Plantando bananeira.
Estamos no caminho.
6.
bananeira
Uma vez eu fiz um curso de saneamento ecológico, onde aprendi uma técnica chamada círculo das bananeiras — sim, eu já fiz de tudo um pouco nessa vida.
Parte do processo consistia em, de fato, plantar bananeiras. A planta mesmo, não ficar de ponta-cabeça. Descobri algo revelador: a bananeira se planta ao contrário!
Por isso a expressão popular quando alguém quer trocar os pés pelas mãos ao se apoiar no chão. Só não me pergunte o porquê que eu não lembro, mas eu sei que era assim porque fiz com minhas próprias mãos.
7.
Matsuo Kinsaku
Nasceu em 1644, no Japão. Viveu o início de sua vida adulta como um samurai, que na época funcionava mais como classe social do que como profissão, embora tivesse claras funções militares. Ainda com vinte e poucos anos de idade, seu ‘chefe’ faleceu e Matsuo ganhou sua liberdade.
O caminho tradicional sugeria que ele se tornasse uma espécie de funcionário público, fazendo trabalho burocráticos para a administração local e desfrutando de boa estabilidade.
Matsuo não quis. Decidiu virar poeta e viajar pelo Japão em busca de conhecimentos e aventuras. Angariou discípulos e construiu grande obra com reconhecimento internacional ao longo de sua vida, sendo considerado o maior poeta do período Edo japonês.
8.
haikai
Matsuo ficou famoso por ter tornado notável um estilo de escrita japonesa chamado haikai, que é uma espécie de poesia curta, cheia de métodos e significados.
velha lagoa
o sapo salta
o som da água
Esse é um de seus haikais mais famosos. Entendeu a mensagem? risos.
Eu sei que não. A um primeiro olhar parece algo totalmente sem sentido. Mas aprofundando um pouco, há um estilo de vida baseado nisso.
9.
método
Fazer um haikai depende de diversos fatores. Aqui vão algumas características do método:
dezessete sílabas (os originais em japonês; se você contar em português, pode não dar certo);
três versos (esse sim, você pode contar que dá certo!);
surge do improviso de artistas em conjunto.
Além disso, apesar da tolice aparente, vêm os significados que estão por trás de cada verso:
verso #01: circunstância absoluta, cósmica, não humana. (“velha lagoa”);
verso #02: ocorrência do evento, o acaso, a mudança, o acidente casual. (“o sapo salta”);
verso #03: o resultado da interação entre a ordem imutável do cosmos e o evento. (“o som da água”).
A-HÁ! Pegou agora? Pois é.
10.
juntando as pontas
Ok, hora de revelar o mistério.
Recaptulando:
Arte;
“Do contra”;
Liberdade;
Felicidade;
Estilo de vida;
Método.
Matsuo, num dado momento da vida, quis criar para si um nome artístico. Trocou o seu sobrenome original por bashō, que significa ‘bananeira’ em japonês.
Incrível, né?
Sim, demos a volta ao mundo para batizar a empresa de bananeira, só que de um jeito mais artístico. risos.
Sim, se formos construir juntos a sua empresa, pode ser que tenhamos um processo de naming muito louco também. Faz parte. Os insights de sábado a noite costumam ser os melhores. Vida de empreendedor.
Espero que você tenha gostado :)
Um abraço,
Victor
genial! hahaha 💛